A inspiração está na natureza. Com esta premissa, a partir de agora e em Andorra la Vella poderemos ver a proposta apresentada por Joan Xandri, numa exposição pessoal que, de certa forma, podemos qualificar como uma retrospectiva, já que encontraremos obras do final dos anos oitenta do século passado, bem como outras de alguns meses atrás, algumas destas últimas concluídas especificamente para a exposição. A mudança permanente, a percepção evolutiva, a constatação de que o que podemos considerar permanente num dia já não o é no dia seguinte: todos esses são elementos de conhecimento que levam o artista a valorizar a passagem do tempo e as transformações que ele acarreta ou provoca. E no momento de fazer essa reflexão, Xandri se concentrou no que está mais próximo dele: a natureza. Essa escolha (não deliberada, instintiva) lhe permite acrescentar uma consideração adicional ao trabalho conceitual anterior: a interação que a pessoa tem com o ambiente natural. Essa interação será mais um elemento na análise de uma transformação evidente, que fará com que a mudança —constante, muitas vezes invisível, mas que segue regras estabelecidas resultantes da ação endógena do meio natural— seja, por sua vez, modificada.
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Ao expressar suas percepções, o artista não adota um caráter vingativo, mas nos leva a ver quais são as condições transformadoras do ambiente (naturais ou induzidas) e quais os efeitos que elas têm. Transitório (nome da exposição) indica claramente o caminho seguido e seu caráter. Além de uma parte introdutória, onde podemos ver as pinturas mais antigas —nas quais já aparecem animais, reais, mas que poderiam parecer imaginários—, a exposição inclui também uma reflexão mais teórica, com resultados mais abstratos, sobre as possibilidades criativas oferecidas por novas técnicas (por exemplo, nanquim) ou novos suportes, bem como documentação relativa à sua presença no pavilhão nacional de Andorra na Bienal de Arte de Veneza de 2015. Na sala dedicada às instalações —que têm concentrado parte considerável de sua obra nos últimos tempos— veremos a posição de destaque que a parte conceitual adquiriu em sua produção, onde as telas (apesar de estarem na base da obra) serão assimiladas a realidades mais complexas. A natureza continua onipresente, mas agora em condições diferentes.
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