Ángel Marcos enche o Domus Artium 2002 em Salamanca com Topologías introspectivas, a grande retrospectiva do fotógrafo de Valladolid, com curadoria de Fernando Castro Flórez. Por meio de sua câmera, ele criou uma história e um retrato de temas importantes das últimas décadas, e esta grande exposição é um tour e uma revisão de algumas das séries mais importantes do artista.
O espectador iniciará uma viagem por diferentes cantos do mundo, desde as metrópoles mais importantes, numa espécie de viagem e caminho que o artista propõe em torno de um sonho, mas será também uma viagem pela consciência crítica, para contemplar o que acontece na sociedade. As obras são exercícios de resistência, de sair do modo atual, do piloto automático, e de pensar a partir de imagens. Da estética que busca, passamos ao elemento poético, mas sempre em paralelo com a nuance crítica, mas também contemporânea.
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O DA2 de Salamanca, portanto, estará repleto de realidade, de poesia onírica, parando em Nova York, mas também fazendo uma pausa em Havana ou na China com Around a Dream de 2017, sem esquecer Las Vegas, além de Barcelona ou Madri, lugares e cenários totalmente diferentes que nada têm a ver entre si; porém eles acabam criando caminhos comuns. O artista fala sobre o retorno à natureza, sobre os vestígios e paisagens em torno do conceito do sonho, sem esquecer questões como ver a cidade como um ponto nevrálgico de poder, econômico e religioso. Três salas ao centro onde mostra toda uma meditação sobre a condição existencial das grandes cidades, mas ao mesmo tempo, tomando o binômio poético e existencial, propõe uma meditação estético-antropológica sobre as condições de vida contemporâneas e vai além de uma poética crítica que não se torna panfletária.
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Aspectos como exclusão, marginalização, desejo utópico, desesperança, drama, são elementos que ele cria para compor esse retrato da época. Na série sobre Nova York, a cidade dos arranha-céus que deu origem ao grupo dos Irascíveis (Willem de Kooning, Jackson Pollock, Mark Rothko), Ángel Marcos radicaliza o imaginário de todo o conceito periférico e dá origem a uma visão da cidade como uma silhueta urbana escatológica. Não é um trabalho documental e não é essa a intenção de Topologías introspectivas, mas é uma exposição crítica e o faz apresentando-a como uma espécie de desmantelamento do presente e uma linha de sistematicidade na trajetória do artista. Essas topologias têm parte da lógica dos lugares visitados e da pegada da presença humana. Ángel Marcos cria obras narrativas, de espaços e suas arquiteturas, de anseios, mas também de medos, dificuldades e precariedades. “É preciso aspirar a uma vida melhor”, explica Fernando Castro com a obra de Ángel Marcos.
O artista de Valladolid faz parte da história da fotografia espanhola e é um artista de referência, mas o DA2 de Salamanca dá profundidade, cria um discurso conceitual e concede a Marcos o lugar que ele merece em uma sociedade que já vive vinte e cinco anos do novo milênio. É preciso parar em cada obra, em cada lugar, em todos os detalhes de suas fotografias e começar uma viagem pela poética frágil e utópica de Marcos.
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