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Exposicions

Tarsila e o Brasil canibal

Palmeiras, Tarsila do Amaral (1925). © Tarsila do Amaral © Sergio Guerini
Tarsila e o Brasil canibal
Rosa Gutiérrez bilbao - 16/03/25

No final de fevereiro, uma grande retrospectiva de Tarsila do Amaral, porta-estandarte e ícone da vanguarda brasileira, chegou ao Museu Guggenheim de Bilbao, vinda de Paris. Uma iniciativa que reúne os pioneiros que redescobriram o pintor em nosso país (Fundação Juan March, Madri, 2009) e a modernidade brasileira (Brasil. Da antropofagia a Brasília, IVAM, Valência, 2000-2001).

São Paulo-Paris: roteiros de ida e volta

Paris, a verdadeira Paris, aquela que me deixou impressões indeléveis, foi a Paris de 1923. Eu já a conhecia três anos antes [...] mas ela não inundou minha sensibilidade de forma profunda. Saindo do Brasil em 1920 [...] fui parar no ambiente pomposo parisiense. Eu não tinha visitado nenhuma galeria moderna.

Embora Tarsila tenha se estabelecido em Paris em 1920, foi após um breve retorno ao Brasil, em 1922, no qual se integrou ao movimento renovador promovido pela Semana de Arte Moderna de São Paulo e com alguns de seus participantes — a pintora Anita Malfatti e os poetas Oswald de Andrade, Menotti Del Picchia e Mário de Andrade — que formou o chamado Grupo dos Cinco, quando, ao retornar à capital francesa em 1923, ingressou nos círculos mais inovadores da capital, às margens do Sena. Em contato com o cubismo, ele aprimorou sua linguagem, enquanto a descoberta do primitivismo via vanguarda o aproximou de suas raízes brasileiras. Se em São Paulo ela havia trilhado o caminho da modernidade que a levaria a Paris, em Paris ela iniciou um caminho de volta às origens que a levaria de volta ao Brasil.

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Redescobrindo o Brasil: a viagem por Minas Gerais e Rio de Janeiro

Fomos em grupo, para descobrir o Brasil [...] Encontrei em Minas as cores que eu amava quando era criança. Depois, me ensinaram que eram feios e caipiras [...] Mas depois me vinguei da opressão, transferindo-os para minhas telas [...] Pintura limpa, sobretudo, sem medo dos cânones convencionais. Liberdade e sinceridade, uma certa estilização que a adaptou à era moderna.

Nessa viagem à semente, em busca de um substrato cultural, acompanhada por Blaise Cendrars e os vanguardistas paulistas, que transita pelo Rio de Janeiro e pelo carnaval e pelo Brasil caipira de Minas Gerais do século XVIII, Tarsila reencontra as cores e as formas ingênuas do barroco de sua infância. O resultado disso é A negra, que, com sua sensualidade direta e primitiva, antecipa a fase antropofágica. A pintura de Tarsila engoliu a modernidade europeia em Paris e, nutrida no Brasil pela tradição vernacular, está pronta para a digestão antropófaga.

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Do Pau-Brasil ao Manifesto Canibal

Minha pintura, que eles chamaram de Pau-Brasil, surgiu de uma viagem a Minas em 1924 […] O contato com aquela terra cheia de tradição […] despertou em mim o sentimento de “brasilidade”. Outro movimento, o Antropófago, teve sua origem em uma pintura de 1928 […] Diante daquela figura monstruosa de pés colossais, pesadamente apoiada no chão […], à qual deram o nome de Abaporu – antropófago –, decidiram criar um movimento artístico e literário situado em solo brasileiro.

O Manifesto Paz-Brasil (1924), assinado por Oswald de Andrade —com quem Tarsila formaria o brilhante casal Tarsiwald—, inaugurou um despertar cultural nacionalista e moderno que se cristalizaria no Manifesto Antropófago (1928). As pinturas de Tarsila se tornariam o emblema desse movimento canibal de ingestão do alienígena para sua metabolização nas formas mestiças da primeira vanguarda brasileira. Como prega o manifesto: “Tupí ou não Tupí, eis a questão”.

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